segunda-feira, 17 de junho de 2013

Alma de Pássaro

"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar." Friedrich Nietzsche

Abro as asas devagarinho, plano, venho de vez em quando ao solo, raízes da árvore que me viu nascer. Rebusco memórias de mim, abraço quem tenho, bebo das experiências, sacio-me de um ninho de histórias que eu mesma criei.

Quantas penas me levou a vida!

São tantos os tombos, feridas, múltiplas cicatrizes, silvos cansados e tantas vezes chorados, porque eu também sinto e muito. E sempre que o meu planar é maior, sempre que quebro a asa, nos voos bons e nas aterragens más, olho para trás. Não por saudade mas por gosto. Que gozo me dá ver-me agora com tantas histórias para contar, tantas coisas e tanta gente, rotas que conheci tão bem, pelas quais não quero passar mais, que se por elas não tivesse passado, tão pouco teria aprendido. È rápida a minha espreitadela, que isto do passado não nos deixa usufruir dos voos do presente.

Os pequenos voos que aproveito, mesmo em rotas que muitas vezes não são minhas, treinam as minhas asas e melhoram a minha mente, gps emocional de rotas sentidas. O ninho onde me deito lembra-me de onde vim. As árvores onde pouso são postos de vigia a árvores mais altas, galhos seguros de certezas: Um dia voarás até ali.

No meu canto trago a experiência do que passou, a melodia do que aí vem.
Falta-me muito, eu sei, para conseguir voar como quero, planar como desejo, fintar o vento com acrobacias seguras. Muitas penas mais me levará a vida, quantas quedas terei ainda que sofrer…!

Cada voo é uma luta. E se é preciso sofrer para voar no mais alto céu, então a primeira a abrir as asas serei eu.

Tu, alma de pássaro, nunca desistas. O teu voo de hoje faz parte dos muitos que terás de tomar até conseguires alcançar as rotas da tua vida.
Serão várias as paragens, as árvores e as quedas. Mas tu, ave rara, saberás sempre que só as tuas asas te levarão onde almejas.

Agora vai e voa. És livre.



Enquanto percorreres o céu, o dia ficará mais bonito. E que os teus voos sirvam de exemplo para quem nunca quis ter asas, por medo de não conseguir voar.