Não,não,não, ai Ai AAAAAIIII !
PUM.
Foi assim, após 3 segundos de muita luta, como que de um
sabonete em mãos molhadas se tratasse, que a minha máquina caiu ao chão. E lá
ficou. Bem mais do que os 3 segundos daquela demorada luta, devo confessar. Eu
olhava-a com admiração e tristeza, enquanto imagens aleatórias apareciam no seu
entorno, vagabundeando por um solo pesado de tão duro, demasiado, para uma
pequena tão frágil.
Tanto que me custou a paga-la, tanto que dela preciso!
Tanto dinheiro que não tenho, tanto que vou precisar!
E é assim, que me surge, num ápice, o esboço de um sorriso satírico, o que é que se há-de fazer.
E é assim, que me surge, num ápice, o esboço de um sorriso satírico, o que é que se há-de fazer.
Eu bem sei que podia chorar e passar o dia em lágrimas,
questionando-me sobre as escassas opções que possuo neste momento para compor
aquela parte material de mim que me leva a unir-me a uma máquina. E podia,
claro que podia, explodir com umas mãos cheias de palavrões e pontapés no ar,
amenizando a dor material de uma necessidade imaterial. Podia também
esbracejar, indagando que isto só me acontece a mim, que sou uma pobre menina
infeliz sem dinheiro e, agora, sem a minha pequena. Podia tornar-me uma coitadinha
infeliz – tenham muita pena de mim, por favor –, como podia também gritar alto
e bom som “AHHH! PORQUÊ EU!?!?”!
Podia, claro que podia. Mas como diz o outro, não era a
mesma coisa.
Porque eu sei bem que apesar das dificuldades que terei para
a consertar, as coisas simplesmente acontecem. E de que me vale chorar, depois
do leite derramado? E uns bons litros, digo-te já.
Aperta-me o coração, claro que sim. Custa-me, então não! Mas
o que tem de ser, tem mais força. E eu, depois de tantas dificuldades, dores e
lutas, já simplesmente me rio.
Talvez seja loucura, dizes tu. Mas eu não posso concordar
contigo. Rir, nestes casos, é uma protecção que o coração tem para amenizar as
dores de algo que poderia ser bem mais forte. E não me refiro apenas à máquina,
mas a tudo o que acontece nos nossos coraçõezinhos de manteiga às vezes duros,
mas que se derretem assim que uma brecha de um sol tão nosso os rasar.
A maior dificuldade que o ser humano tem – e o que o faz ser
tão maravilhoso e diferente de todos os animais – é a capacidade de sentir de
uma maneira exarcebada. O que nos impede, na maior parte das vezes, de ver os
acontecimentos como eles são na realidade. È a nossa ligação tão efémera mas tão
forte à terra e ao que admitimos ser nosso, que nos faz ser egoístas quando
algo nos falta e chorar, quando devíamos estar gratos por termos tido a
oportunidade de ter realmente, uma oportunidade.
Uma máquina partida, uma dor que já passa, uma complicação
económica e um risinho satírico. È isto. A simplicidade tão complicada de uma
vida. UFA!
Beijinhos, Ana
Beijinhos, Ana
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