quinta-feira, 7 de novembro de 2013

COR DA ROSA




Ia de passo apressado,
Agarrada à liberdade,
Vi-te num canto ladrilhado,
Parei mesmo ali ao lado,
E tenho que dizer a verdade:

Segurei-me à vontade tua,
Viajei pelo teu jardim
Ignorando aquela rua,
Só me lembravas de mim

Ali, só de acompanhada,
Colorida, sem disfarçar
Querias mais uma madrugada
Não posso, não deixo,
- Nem pensar!

E tal como eu nunca quis,
(porque a razão é pouca)
Cortei-te pela raiz,
Linda, cheirosa, louca

Não perdeste tu essa cor,
Tampouco o perfume que de graça
Me desgraça pela dor
De que talvez o calor
Te faltasse na vidraça

E ficaste tu ali, 
Rosa tonta, de apelido
A colorir a fachada
De quem nunca te havia colorido

Água, sol e alimento
Não chegam para ti, bem sei
Morreste e morreste-me.
Lamento.
Sou eu e tu e mais ninguém.

Sem pensar, pensei em mim
Picaste-me por fora e por dentro
Morreste-me e eu morri assim,
Preta e branca, em tons de cinzento.

Como me arrependo – oh Rosa!
Por te ter tirado a cor.
Quisera eu que no meu regaço
Fosses tu o meu abraço
Colorida só de amor.

Durmo agora em tuas folhas
Que pintei com o azul do céu
Por me esquecer de voar
A rosa, essa, sou eu.

Que nunca mais te falte a luz,
O teu jeito perfumado
Que me faz não ter idade,
Nunca viver na metade
No meu canto ladrilhado

Quem passa agora por ti
Vê no jardim a inteireza,
Só a Rosa sabe ser Rosa
De espinhos, verdade e certeza

Essa flor que me picou
Não deixou viver a espera
Acordou-me, e tão feliz
Levou-me a saudade ao nariz!
Num instante fui quem sou
Para voltar a ser quem era



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