17:30h do dia 26 de Junho. Depois de 3 dias intensos, eis que chegava ao último dia de formação. Muitas provas pessoais haviam já sido superadas, objectivos estipulados tinham sido esclarecidos, medos e conflitos haviam sido mediados e corriam em mim ventos fortes de mudança. Ao longo de dois meses de formação sentia que as diferenças começavam a notar-se a nível pessoal e social. E que diferenças! Tinha conhecido pessoas excepcionais, vivido momentos de grande emotividade e começava a ver o mundo e a interpretar as diversas situações que ocorriam na minha vida mais abertamente, como que a libertar-me de crenças e valores que me impediam de ver mais além, a interpretar mapas, a compreende-los, a estudar-me e aos outros.
Ultimo dia de formação e eu estava ali, a absorver toda a informação que me tinha sido brilhantemente passada, a crescer por dentro e a transformar-me, a interpelar-me sobre tudo o que havia depreendido. Enquanto desenhava na minha placa de madeira o protótipo de um dia perfeito, pintava a minha vida das mais lindas cores e acompanhava a desenvoltura da minha tela com pensamentos vivos, de pessoas e locais que fazem parte de mim. Pintava-os também com as mais positivas das intenções e sonhava com o desenrolar daquele dia, cheio de um trabalho que me fizesse sentir útil, ajudando os outros com a transmissão dos meus conhecimentos. Via-me rodeada de amigos e família, que me olhavam sorrindo, enquanto ia enriquecendo o coração e o espírito e saciava a minha sede de conhecimento, contemplava a beleza de um pôr do sol de mão dada com quem quero passar os meus dias e constituir família. Com as mesmas cores pintava na parte de trás da tela tudo o que me limitava ainda. O medo de falhar, a necessidade de uma mão amiga e o desejo de um emanar de vontade dentro de mim. Mais coisas teria escrito se mais tempo tivesse, mas apenas aquelas chegavam para provocar em mim limitações e desconforto. Pensava eu que tinha clareado tudo cá dentro!
E aquela foi a hora.
Como que num filme em câmara lenta, via surgir à minha frente dois tijolos. A minha placa desenhada com todas as ânsias havia-me sido tirada e colocada ali, entre os ladrilhos daquilo que viria a ser parte de mim. Medo?! Sim. Nervosismo?! Muito. Não queria acreditar que tinha que a partir, não consigo, não sou capaz. Ocorreram-me todas as expressões de negativismo que conhecia e de entre as palavras desenhadas, o medo de falhar surgiu radiante. Ali parada, não imaginava mais do que uma placa, mas afigurava mais do que 5 cm de uma enorme dor que iria provocar na minha mão, mais do que uma prova não superada, uma tentativa falhada, e vai, e parte a placa, e não consigo, não sou capaz, tens que tentar, mas vou falhar e vou sentir-me frustrada e tenta concentrar-te e não consigo, não consigo, não consigo e... O estrondo foi grande, mas aquele pedaço de madeira permanecia na mesma. Diante dos meus olhos apenas o medo de falhar, a necessidade de uma mão amiga, o desejo de uma vontade ilimitada, que acompanhavam as minhas lágrimas.
E fugi.
Escondi-me entre o fumo do cigarro e o meu choro compulsivo. Isolei-me em pensamentos negativos, ingratos, de instabilidade e frustração. Eu queria partir aquela placa, eu queria vencer as minhas limitações! Lembrei-me de como aquele momento tinha sido igual a tantos outros na minha vida. Acabaria por desistir e envolver-me em malogros preestabelecidos que não iria esquecer, como sempre fizera encontrando a via mais fácil para me acomodar a uma vida fútil e sem sucesso.
Mas quem sou eu, afinal?! O que faço aqui?! Onde estou?! Três perguntas bastaram para limpar as lágrimas e imaginar-me a partir aquela placa, a provar a mim mesma que sou capaz de tudo, que consigo, que iria conseguir quebrar as minhas limitações de uma vez por todas. Pensamentos positivos, submodalidades activadas e a sorte de ter pessoas excepcionais ao meu lado sopravam para que as velas do meu navio mudassem de rota. E eu deixei-me ir, guiada por aquele que seriam os ventos de mudança a vibrar dentro de mim.
Levantei-me como se um ferrão me tivesse penetrado as nádegas. Sentia-me fervilhar. Lembrei-me de todos aqueles que me gozaram, me bateram, me criticaram e se riram de mim. Lembrei-me do mal que fizera a mim mesma todos os dias, comparando-me e rebaixando-me, desprezando o meu valor. Lembrei-me dos fracassos e insucessos causados pelo contínuo desmembramento de identidade, pela preguiça que me reconfortava a pequenez, pelo emprenhamento auditivo diário.
Aquelas escadas nunca demoraram tão pouco tempo a serem percorridas. De uma vez por todas iria tornar-me quem realmente sou. Estou farta! Posição dos pés. Isto vai acabar e eu vou conseguir! Ombro no seguimento da placa. Eu vou alcançar os meus objectivos! Posicionei a mão. Ninguém me vai impedir! A energia corria-me pelo corpo. EU SOU CAPAZ E VOU SER FELIZ, EU CONSIGO TUDO O QUE QUERO!
A placa estava à minha frente, partida.
As lágrimas corriam-me pelo rosto, tão leves e limpas como o meu ser. À minha volta, todas as pessoas que fizeram esta viagem comigo, desde alto mar até à costa, felizes por terem conseguido, por eu ter conseguido, por termos conseguido. Atraquei em bom porto depois de uma viagem em mares profundos e deixei-me estar, contemplando a leveza do meu ser, apreciando a paisagem, visualizando os mares por onde tinha navegado.
De uma vez por todas tinham acabado as limitações. Acabou-se o medo, o sentimento de derrota, as frustrações. Surgiram mãos amigas e uma força de vontade inesgotável que levo comigo para a vida.
Abriu-se um novo caminho, cheio de encruzilhadas e obstáculos que percorrerei sem olhar para trás, congratulando-me por cada pedra no caminho que me fará crescer sempre mais e mais. Agora, a energia que me percorre é permanente. Sinto-me plena de vontade de vencer e positivismo, cheia de recursos e levo comigo as ferramentas necessárias para viver como mereço!
Agradeço ao meu inconsciente pela força que me demonstrou, a todas as pessoas que me acompanham e também àquelas que vão aparecer na minha vida e me trarão novas experiências e ensinamentos.
Agradeço à Luzia Whitmann pelo empenho, sabedoria e força porque “A Ana sabe o verdadeiro peso daquela placa”.
Sei Luzia. E jamais me esquecerei que “The Energy flows where attention goes”.
Sejam muito felizes.
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