quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Ele

7h59m: Já estou atrasada! Tenho que me despachar se quero ser a primeira a entrar na padaria. Todos os dias, desde há meses, aglomero pão em casa, só para entrar ali. Ele não sabe, nem ninguém, que o que eu quero mesmo é começar o dia a olhar para aqueles olhos amêndoados, tímidos e de um brilho que me deixa nervosa só de pensar. Evito o olhar muito a custo, mostro indiferença, pago e saio dali a correr. Que vergonha! Não sei como me dá para fazer estas meninices, eu que fui sempre tão direta e extrovertida… Por mais parvo que possa parecer, o meu incentivo para acordar de manhãzinha é este: olha-lo por segundos, sentir as suas mãos suaves numa troca de moedas, as mais pequeninas, apreciar a sua pele quente, tremer, tremer, tremer e vir-me embora.
Sou tão estupidaaaa!

Eu até podia interessar-me por outra pessoa, podia. Não querendo parecer convencida, confesso-me bastante requisitada para saídas e chovem convites e pedidos de amizade todos os dias. Rapazes giros, meninos do papá, que me chamam princesa e me entregam flores diariamente. Os melhores discursos e os mais belos gestos. E eu nunca me interesso, nunca. As minhas amigas já desistiram. Não sabem o que se passa, que desde que vim de Londres que ando assim. Pudera.

Há seis meses atrás, acabada de chegar da Londínio Romana, pensava que já não me podia acontecer mais nada neste cantinho de Portugal, que eu já era uma menina do mundo: 4 anos fora da minha nação fizeram de mim conhecedora de muitos países, culturas, formas de vida e o meu poder de comunicação fez-me conhecer topo o tipo de Pessoas. Nunca pensaria eu que, depois de pousar as malas e ir de empurrão tomar café com a família para responder aos “ai, diz lá como foi”, “viste os reis?” e “não comeste bem, pois não filha? Eu sabia que tu não te ias dar sozinha!” pudesse chocar com ele. Eu a entrar, ele apressado de saída e 30 pães a voar padaria fora. Foi lindo. Aquele cheirinho a pão quente e doces, que eu adoro, uma confusão imensa e o meu tempo parado. Ali. Só eu e ele. O meu jeito desajeitado. A sua timidez, meia tonta, e tão sua. Eu. Ele. Ele e eu.
E O BATER DE GONGOS GIGANTES NO MEU CORAÇÃO!

- Estás bem?!
(Ai estou, estou, então não estou. Se sabia tinha desmaiado, que essas mãos de pasteleiro podiam bem fazer de mim o melhor croissant do mundo)

Levantei-me apressada, sacudindo do peito os restos de farinha e declarei aberta a minha sina, uma loucura desenfreada pelo menino da padaria que eu nunca tive a coragem de conhecer. Todos os dias, de manhã e depois do almoço, faço os possíveis e os impossíveis para estar ali, naquele estabelecimento que aos poucos se foi tornando a minha segunda casa. Sozinha ou acompanhada, sinto-me bem ali, mesmo sendo difícil vê-lo tanto como queria. Malditas películas de vidros, clientes e tudo e tudo e tudo!
Claro que eu não me fiquei por aqui: aos poucos, fui sabendo dele nas mais variadas vertentes, sem ele sequer alguma vez imaginar. Cá para mim, isso também pouco lhe importa: Evita-me de todas as maneiras, em todos os sentidos. “É tímido e muito calado, menina. Mas um doce de rapaz!”, ouço. 
O doce dos doces, é o que é.

Será que algum dia terei a oportunidade de poder ouvi-lo falar de todas as histórias maravilhosas que tem, que eu sei que tem, para me contar? Se calhar não sou o género rapariga que ele procura. Acho que é isso. Ninguém vai levar a sério uma tagarela, cheia de amigos com a mania das modas e das tecnologias! A dita “popstar” que não é levada a sério, mais uma vez. A menina rica, só porque o pai é bancário e mãe professora universitária, que toda a gente julga queque. Bah, quantas vezes já ouvi esta história, quantas vezes já chorei por ela! Por mais que tente, ninguém me leva a sério. Tão pouco os meus pais, “que a menina tem é que casar com alguém da sua classe, estudar e ter um ciclo de amigos fechado que hoje em dia a inveja é muita e as pessoas só nos fazem mal!”
Acabo de fazer um gesto obsceno.

Eu quero é alguém que me ame. Que me ame de verdade. Quero ser eu, viver no meu cantinho cheio de cães e gatos, que tanto adoro e que nunca pude ter, quero quero ter o meu conto de fadas real, protagonizado por pessoas reais, com problemas reais, que não sejam o “ai querido parti uma unha!” e “o Artur, comprou um carro novo. Mercedes. Que falta de gosto!”.

Quero alguém que me abrace e me faça sentir protegida, que cante comigo no chuveiro e me cubra quando estiver a dormir. O que eu quero mesmo, é Ele. Quero aquele coração de Ouro, aqueles braços fortes e o cheirinho dos docinhos quentes no nosso forno. Quero guerras de chantily e passeios pela beira mar, risos e choros, mãos dadas e palavras sinceras. Quero aqueles olhos de amêndoa doces e a ternura do seu sorriso.

Quero ser feliz.
E, pela primeira vez na minha vida, não sei como.
Se, pelo menos, ele se interessa-se por mim, se ele me visse, realmente…





segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Ela

Que bonita que ela está!

Alguém a chama e ela olha para trás. Sacode o cabelo com aquele seu jeito meio desleixado, todo senhor de si. Reflete o seu brilho nas montras carregadas de detalhes natalícios, quentes e apelativos, que faz frio lá fora e o cartão de crédito apela para ser usado. Só uma, só mais uma vez. Bota da moda, vestido colorido, que o Inverno já está cheio de negridão e ela sente-se melhor assim, a mala combina com as unhas e os lábios com os meus. Eu olho-a, com o brilho de quem a viu por dentro e nunca foi visto por fora. Desce a rua sozinha, falando vivamente ao telemóvel, risonha e resplandecente, levando nas mãos o vazio que eu quero preencher, num encaixe perfeito, tenho a certeza.

Observo-a há meses como se de anos se tratasse. Com olhos de quem vê realmente. “É de cá mas estudou fora, gente fina, que sabe línguas e já correu o mundo! Uma boa menina, de boas famílias!”. Ouço os clientes, encantados.
Ah, se eu fosse como ela… Tão livre, tão alegre, tão eu. Tão tudo que eu nem sei explicar, que se me esvoaçam borboletas pelo peito até ao estômago, do estômago ao coração, numa corrida desenfreada para ver quem chega primeiro àquela flor.

A alegria destes dias farinhentos, de volta dos pastéis variados e do pão de centeio, começa às 14 horas quando ela chega. Um abatanado e um pastel de Belém. Com canela. Usa meia saqueta de açúcar, mexe 3 vezes o preparado, recolhe o cabelo dourado pelo ombro direito e quando o faz encolhe o nariz, as sardas enunciando uma alegria distraída, tanta gente a envolve-la. Não há um dia que não esboce um sorriso. Uns dias mais feliz, outros mais pensativa, mas eu já sei que ela é assim.
Assim-assim, assim sim.

Até hoje contei seis. Seis maneiras soberbas de sorrir. Não gosto de contar as 3 formas de chorar, que me dói, dói-me como se fosse em mim, mas que a garantem linda, pura, única.

Se tivesse a oportunidade de ser como ela, de poder tê-la! Pudesse eu dizer-lhe como fica linda mesmo com aquelas migalhas presas ao cantinho de boca, que sempre se esquece de limpar. Suspirar-lhe que a minha vontade mais absoluta é que olhe um segundo para mim, só um segundo, com o mesmo brilho verde água maroto, expressado no calor do seu olhar, cada vez que vê uma criança. Quisesse eu dar-lhe o meu ombro nos dias do sorriso quatro, quando o queixo treme e prefere a mesa do canto, só, coloca a face na mão esquerda, suspirando a cada 2 minutos, a perna a mover-se numa dança triste. Tivesse eu vida para lhe contar todas as histórias que escrevi sobre ela e os bolos que ela me faz criar, inspiração. As horas passadas em branco, coloridas do seu perfil pertinho do meu, beijos loucos que me alimentam de imaginação a mais. Pudesse eu tê-la…

Mas eu sou… Isto. Um mero padeiro, um simplório, que nem nome tenho para Ela. Que poderia eu dar-lhe? Doces? Esboços daquilo que nunca fui? Uma vida de apartamento alugado, com três gatos, dois cães e pingas constantes no lavatório? Ela espera um príncipe, nunca um sapo. E eu… Sou tudo o que ela tem, nos seus piores pesadelos.

Como pode o rapazote da povoação algum dia sonhar em ficar com a princesa do reino? Nem com mil fadas madrinhas, dúzias de burros do Shrek e cargas de ratinhos, não. E eu, de uma vez por todas, tenho de parar de sonhar, de almejar actos impossíveis. Que a paz no mundo nunca vai acontecer, o mundo nunca será justo e social, o buraco onde caiu Alice não existe, por mais que eu tente procura-lo. É isso. Sou só eu e a minha parvoíce, Thomas More e a sua Utopia.

Ela é mais e melhor. Mais do que algum dia serei, melhor do que algum dia poderei ter.

E por mais que as 14 sejam as horas preferidas de todo o meu dia, porque vou vê-la entrar por aquela porta com o seu jeito de menina, coração de pequena e atitude de mulher, linda, sedutora, meiga e… Esquece. As malditas 14 horas são também as piores, quando o meu coração bate tão forte que me aquecem as lágrimas e tenta, em desespero, adir braços para a segurar e dizer-lhe, forte e seguramente: Tu és a mulher da minha vida.


Agora acorda, coração. Volta aos dias farinhentos que de doçura têm só os bolos. Um dia encontrarás alguém que esteja á altura da tua vontade e das tuas possibilidades. Um dia. 


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

COR DA ROSA




Ia de passo apressado,
Agarrada à liberdade,
Vi-te num canto ladrilhado,
Parei mesmo ali ao lado,
E tenho que dizer a verdade:

Segurei-me à vontade tua,
Viajei pelo teu jardim
Ignorando aquela rua,
Só me lembravas de mim

Ali, só de acompanhada,
Colorida, sem disfarçar
Querias mais uma madrugada
Não posso, não deixo,
- Nem pensar!

E tal como eu nunca quis,
(porque a razão é pouca)
Cortei-te pela raiz,
Linda, cheirosa, louca

Não perdeste tu essa cor,
Tampouco o perfume que de graça
Me desgraça pela dor
De que talvez o calor
Te faltasse na vidraça

E ficaste tu ali, 
Rosa tonta, de apelido
A colorir a fachada
De quem nunca te havia colorido

Água, sol e alimento
Não chegam para ti, bem sei
Morreste e morreste-me.
Lamento.
Sou eu e tu e mais ninguém.

Sem pensar, pensei em mim
Picaste-me por fora e por dentro
Morreste-me e eu morri assim,
Preta e branca, em tons de cinzento.

Como me arrependo – oh Rosa!
Por te ter tirado a cor.
Quisera eu que no meu regaço
Fosses tu o meu abraço
Colorida só de amor.

Durmo agora em tuas folhas
Que pintei com o azul do céu
Por me esquecer de voar
A rosa, essa, sou eu.

Que nunca mais te falte a luz,
O teu jeito perfumado
Que me faz não ter idade,
Nunca viver na metade
No meu canto ladrilhado

Quem passa agora por ti
Vê no jardim a inteireza,
Só a Rosa sabe ser Rosa
De espinhos, verdade e certeza

Essa flor que me picou
Não deixou viver a espera
Acordou-me, e tão feliz
Levou-me a saudade ao nariz!
Num instante fui quem sou
Para voltar a ser quem era



terça-feira, 1 de outubro de 2013

Num conto de fadas chamado Mundo


Momento Introspectivo de hoje:

Tu sabes que as pessoas não são todas boazinhas. Sim, ok, não queres acreditar nisso. Lamento mas vais ter que te render às evidências! Vives num conto de fadas, mas no fundo consegues discernir que as pessoas, por 1000 motivos e mais alguns, são levadas a serem, definitivamente, más. Nunca com o objectivo de se magoarem, mas as suas constantes tentativas de auto-protecção (mesmo que não compreendas os seus actos como tal) ferem os demais.


Como lidas com isso? Não, não tens de ser má também. A vida trata-se de atribuir às pessoas aquilo que elas merecem, mais cedo ou mais tarde. E cada um colhe aquilo que semeia, certo?

Então pára. Respira fundo.

Lembra-te dos ideais pelos quais sempre lutaste e empenha-te em fazer do Mundo um melhor local para viver. Um Mundo como tu, que tanto sonhas, inclusivamente acordada, ambicionas: milhões de Sorrisos sinceros a qualquer hora, salpicados com Amizades verdadeiras. Um Mundo onde habite permanentemente a Entreajuda, a Fidelidade, o Optimismo, o Amor.

És pequena demais para isto tudo? Ès incapaz de mudar o Mundo, esse planeta gigante carregado de milhões e milhões de pessoas como tu?

Não.

Antes, serás sempre grande demais por quereres para todas as pessoas aquilo que ambicionas para ti mesma!

Começa por ti. Mima-te, Ama-te, Valoriza-te, trata-te bem. Ocupa-te em seres melhor por dentro, que isso reflectir-se-á por fora. Dá tudo o que tens, entrega-te naquilo que fazes. Irás certamente oferecer o corpo às balas muitas vezes, tentarão certamente comer-te viva e mandar as entranhas às urtigas…

E agora?
E agora tu, que tanto deste, tanto fizeste, tanto te empenhaste?
E agora?

Agora tu sorris, apesar da dor. Também podes chorar, mas que seja de alegria. Não, não é masoquismo. È ter a certeza de que todo o Ser Humano deverá passar por sacrifícios se quer ser isso mesmo, um Ser Humano.
Transformação! Mudança! Evolução!
 È inteirar-se e interiorizar que todos teremos de passar por diferentes obstáculos, que apesar de dolorosos, servem para ganharmos ferramentas que nos acompanharão neste ténue e prolongado caminho que é a Vida.


E a Vida, minha cara, poderá continuar a ser esse conto de fadas que tu tanto acreditas, mas com bruxas más, monstros e maçãs envenenadas. No final o bem sempre ganha!

Continua o teu longo caminho, princesa. Não pares, não desistas. Só a ti cabe começares o dia com o “Era uma Vez” e aprenderes a viver no “Feliz para Sempre”, aqui e agora.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Tenho uma lágrima no canto do olho

Emociono-me sempre. – Caraças, Ana! – Emociono-me sempre.



Estas minhas lágrimas incontroláveis que me fazem dilatar o nariz e enrugar o queixo, surgem sempre e em toda a parte, por bons e maus motivos.

Desde adolescente que sou assim: Uma chorona sem medida. E os meus olhos redondos e expressivos, contribuem em larga escala para que a realidade de uma lágrima a querer sair da toca, seja concretizada. Mesmo que queira – e acreditem que o experimento sempre – não consigo esconder.
Pensei que com o avançar da idade, a dita “mimalhice” me fosse acabar. É, só podia ser do mimo. 

“Diz” que é de ser filha única. E como todos os filhos únicos, pertenço à ala dos sempre mimados, mal habituados, egoístas e, claro está, chorões.
Mas não. Desenganem-se os criadores deste estereótipo picuinhas que os filhos únicos não são todos assim. Mimada quanto baste, mal habituada nem pensar, de egoísta já tive dias e chorona… ok, ok. Confirmado.

O que mais me constrange é que tudo o que mexe com este coraçãozinho de manteiga, provoca-me um rio de lágrimas que enche à medida que o assunto se vai desenvolvendo. Quando era pequena ria-me imenso: gozava com a minha avó, de lenço em punho, coladíssima à televisão, a sujar a almofada que era o Ponto de Encontro daquelas lágrimas, trazidas pela voz calma e profunda do Henrique Mendes, que ainda mais lágrimas provocava, valha-me Deus.
E agora, anos idos, vejo-me a chorar até e literalmente pelas pedras da calçada.

Porque são cenários tristes, tenho pena, comovo-me. Porque são dias felizes, fico feliz, comovo-me. Porque os motivos são saudosos, ponho-me no lugar das pessoas, lá caem as lágrimas. Se alguém me responde mal, sentindo-me eu incapacitada e mais pequenina, choro. Elogios? Buaah!

Há quem critique este meu estado de limpeza interior constante. Até eu, que sou eu e, pronto, lá terei de aceitar-me como sou, canso-me de mim mesma. Ao mesmo tempo, comovo-me (sim, comovo-me!) por ser assim. Esta minha sinestesia não é para qualquer um. Não é qualquer pessoa que se deixa embevecer pelas mais diminutas vislumbrações, falando de momentos bons. Que se emociona porque se lembra, simplesmente, que as melhores coisas da vida não têm preço e uma lágrima foragida pelo simples facto de estar aqui, nunca será uma lágrima desperdiçada, quando tudo, por si só, já vale a pena.
Não conheço, por outro lado, muitas pessoas que se deixem (e)levar tanto pelo trabalho que, querendo ser o melhor dos melhores, se deixem levar pela emoção quando as coisas correm. Mal ou bem. Até nisso!

Eu dou muito de mim.
Sinto tudo o que digo.
Totalizo-me em tudo o que faço.

Mal ou bem, certa ou errada, sou eu. E só não choro agora porque há emoções que já aprendi a minimizar. 

Snif, snif.

Beijinhos,

Ana

terça-feira, 10 de setembro de 2013

- Está tudo louco: as árvores e as pessoas.


Foi com surpresa e uma certa condescendência que recebi esta frase no meu cérebro. Realmente está tudo louco, sim.
Quanto às árvores, não vos sei, sinceramente, explicar com as devidas denominações o que se passa, mas dever-se-á ao tempo, à maturidade dos frutos, que consta que agora tudo se transforma muito mais rápido, fora dos limites temporais a que estamos acostumados. Primavera e Outono, serão palavras que já pouco detêm sensações. Exclui-se um meio-termo que sabia tão bem e que me fazia sentir como que em filmes como Outono em Nova Iorque ou a Canção do Sul e prepara-se o espírito e o corpo para o choque: ou muito frio ou muito calor.

Quanto às pessoas… Bem, pensando melhor, acho que sei mais sobre as árvores.
O que posso referir, é que realmente e pensando bem sobre o assunto, não existe muita diferença entre as árvores e as pessoas. Hoje, tal como as árvores, as pessoas maduram rápido, transformam-se sem esperar a sua estação e quando cai a folha vejo-me diante de uma tormenta que nada tem de belo.
Embora as pessoas pensem que estão quentes como no verão, nada fizeram senão alterar as estações e o encanto. E este meu choque vai para Miley Cyrus que embora nunca tenha sido uma referência pessoal, por ter já ficado traumatizada com a Ana Malhoa, revelou-se num ídolo para a criançada que adorava a menina sorridente e divertida que cantava e perseguia os seus sonhos, num ambiente brilhante, de sonho. E ameno, claro está.
De um momento para o outro surge o Verão e ela despe-se. Matura de repente, corta as raízes e lá vai ela, pouco de formosa e muito de segura, aparecer nos media numa postura puramente pornográfica a chocar a pequenada, acostumada à inocência e purpurinas, que a verá como um exemplo a seguir.
È para tirar? Então tira-se!
Confesso-me verdadeiramente abalroada com a mentalidade adquirida um pouco por todo o mundo nos últimos tempos. Vale de tudo. O que é mesmo “fixe” é viver. “Keep Calm” que o corpo é já um objecto, como quem oferece uma pastilha elástica. Beicinhos, nudez, marcas e estilo. Muito estilo. Diz que é swag, meus amigos!
Vão-se, assim, os sonhos das crianças ainda com mais facilidade do que foram absorvidos. Vai-se a sanidade e a salutariedade que acompanhava a Heidi, o Marco, a Rua Sésamo e até o Dragon Ball, que apesar da tontice da tartaruga genial, ainda ia tapando qualquer coisinha e não mudava drasticamente, senão para fazer o bem.

E eu estou apenas preocupada com o nosso futuro, com as crianças, com a (des)evolução da educação. A minha geração já detém o seu “Quê” de loucura e pessoas como a Miley Cyrus só vêm destruir a pouca magia que ainda existe no mundo, dedicada agora a uma realidade literalmente nua e crua.


 É, de facto, hoje em dia está tudo louco: As árvores e as pessoas.



segunda-feira, 29 de julho de 2013

A pequena grande Ariel

Esta é a história da princesa Ariel.



E esqueçam as caudas de peixe, as profundezas do oceano, omitam o príncipe e ignorem os navios. Muito em terra, apresento-vos a minha princesa:

Ariel Natal Paris.

Um pêlo muito encaracolado reluzia a par dos olhinhos vidrados de medo quando a vi pela primeira vez. Rabito de porco e grunhido de leitãozinho tal era o medo da permanecer na solidão. Ariel, dizia o meu pai, foi encontrada na rua e levada para um canil, quis o destino que por pouco tempo. Só a sorte não se apaixonou por ela, naquela vida das ruas. Tais eram as ganas de viver, arranjou apartamento em casa de bons donos, que por malvadez de um triste fado que guiava esta princesa, não puderam vê-la crescer.

Não sei bem o dia em que nasceu, mas de Dezembro, eleva-se a memória de um renascimento que fez de mim, um mês depois, uma mãe apaixonada pela sua cria. Pão e criação. Amor e Entrega. Paris de magia, romance e sonho.

Durante meses, afaguei-lhe as mágoas de um medo tão mimado que dava dó. Rebolava-se em mim, trincava as almofadas, saltava à janela, louca de emoção, levava tudo o que era meu e depois vinha, vinha sempre numa correria tão própria, deslizava tapete fora, poisava a pata já grande demais para um ser tão pequenino na minha mão, muito adulta.

Eu estou aqui, para sempre.

Num dia qualquer dia abro a porta e já a vejo correr para mim. Afago-lhe a peruca de um pêlo farto que traz do pescoço às orelhas e ela ladra de excitação. Demasiada ousadia, rebeldia, arreliação, também acho. Xiu, Ary! 

Agradece-me todos os dias pela oportunidade que lhe dei. Eu, agradeço-lhe (num sussurrar orgulhoso) por fazer parte da minha vida. Abana a cauda e ali ficamos, horas no sofá, eternidades na cama, companheiras, parceiras, amigas.

Nunca imaginei que um cão pudesse ser tão importante na minha vida. Se calhar a magia foi essa: vê-la sempre como muito mais do que isso. Nunca pensaria eu que pudesse ser digna de uma privilégio tão grande como é conhecer a Ary e aprender tanto sobre tanta coisa. Puder conhecer um olhar, reconhecer um querer, saber tanto sobre alguém que se incorpora tanto em ti que apenas te deixa e faz guiar pelo olhar e pelo sentir. De palavras, ouvia ela pouco!

Da princesa Ariel recebi o dom da paciência. Foi difícil saber manobra-lo, conhece-lo, quantas vezes me fartei do nome da princesa por não honrar o presente que ela me dava. E, por fim, a magia começa a ser real.
Da Ariel, nasce a energia que eu nunca soube ter. A força que eu ambiciono quando a luz tende a fundir, a vontade de viver, de conhecer, de procurar. A garra física de uma cadela campeã, princesa perdigueira, a minha pequenina que corre pela vida fora.
Quem é linda, quem é?

Fui escolhida para cuidar da Aryzona e curar-lhe os medos, deixar-me que ela tratasse dos meus. Tinha de ser eu a ficar com aquela ternura, a aproveitar da sua companhia, ela sabia que eu merecia crescer.

Crê ser, crer ser, crescer. Crescer, crescer, crescer.

Ai, Ary, que falta que tu me fazes.

Cumprida a sua missão na terra, a Ary partiu, como sempre quis, eu sei. Rodeada de amigos, sem muito sofrer, nos seus cobertores coloridos, feliz de tanto saber viver.

Alegria! Determinação! Energia! A minha cadelinha foi levar a sua luz ao céu. Vai agitar os campos, correr pelos prados, rebolar-se na relva verde clara, chatear as pessoas de tanto saber dar-lhes paz. E isso fá-lo tão bem… Não fosse a Ariel Natal Paris uma força da natureza, impossível de não admirar, de não ter vontade de nos darmos para quem tanto se deu.
Eu, ficarei aqui, cheia de dor, cheia de saudade, cheia de tão vazia, mas continuarei a semear aquilo que a Ary desde sempre plantou: Permitir-me ao amor pelos animais, à paz e à entrega. Usar a paciência, não puder desistir, saltar barreiras, amar seres humanos. Era isso que tu fazias de melhor minha pipoquinha. E é assim que eu te vou recordar sempre, mesmo derrotada por dentro, mesmo querendo-te aqui, chata, atrevida, hiperactiva.

Agora vai, vai mas volta rápido. Há milhões de pessoas que poderás conhecer que merecem a lição que me proporcionas-te. Obrigada, coisa linda.
Dá beijinho à mamã, dá… Até já.

Amo-te, de um amor só nosso, agora sem nós.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Princesices

Sonha, corre, alcança, vai mais além, sê tu própria.






Não tenhas medo.

Quem tem realmente valor acompanhar-te-à, puxará da espada por ti, ajudar-te-á a lutar por aquilo em que acreditas, dar-te-á coragem para continuares a ser quem és, apesar de saber o quanto sofres, às vezes. E de mãos dadas contigo, se sabe que queres, podes e deves, faz-te ir mais além. Não te leva ao colo, mas servirá de encosto para o teu cansaço.

As barreiras no teu caminho, essas, quão altas e difíceis se tornam! Mas foram feitas para ser ultrapassadas. E as peripécias da vida? Que te deixam exausta, tantas vezes sem vontade... Servem para retirares delas uma lição! Hoje e sempre, há que arregaçar as mangas e borrar as mãos na lama. Arrancar unhas, sujar-te. Às vezes também é preciso abdicar da maquilhagem, descer dos saltos e virar fera. Imagina se tu fosse fácil...

Nunca desistas, jamais desanimes!

Tu sabes que dentro de ti vive uma guerreira com toque de princesa, feitio dificil, jeito doce e sensível, armas em punho, pronta para mimar quem por ela passa. Metade arranhão, metade miminho. As princesas são assim! Um dia de salto alto, outro de bota de montanha. E tu, de fato de guerra, levanta a cabeça. A coroa não pode cair!

Agora vai, sem olhar para trás, avança, luta.

Cabelos ao vento, segue a princesa de sorriso doce. E ninguém, nunca, conseguirá fazer-te recuar ou desistir.

Nasceste princesa, serás sempre uma guerreira.

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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Alma de Pássaro

"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar." Friedrich Nietzsche

Abro as asas devagarinho, plano, venho de vez em quando ao solo, raízes da árvore que me viu nascer. Rebusco memórias de mim, abraço quem tenho, bebo das experiências, sacio-me de um ninho de histórias que eu mesma criei.

Quantas penas me levou a vida!

São tantos os tombos, feridas, múltiplas cicatrizes, silvos cansados e tantas vezes chorados, porque eu também sinto e muito. E sempre que o meu planar é maior, sempre que quebro a asa, nos voos bons e nas aterragens más, olho para trás. Não por saudade mas por gosto. Que gozo me dá ver-me agora com tantas histórias para contar, tantas coisas e tanta gente, rotas que conheci tão bem, pelas quais não quero passar mais, que se por elas não tivesse passado, tão pouco teria aprendido. È rápida a minha espreitadela, que isto do passado não nos deixa usufruir dos voos do presente.

Os pequenos voos que aproveito, mesmo em rotas que muitas vezes não são minhas, treinam as minhas asas e melhoram a minha mente, gps emocional de rotas sentidas. O ninho onde me deito lembra-me de onde vim. As árvores onde pouso são postos de vigia a árvores mais altas, galhos seguros de certezas: Um dia voarás até ali.

No meu canto trago a experiência do que passou, a melodia do que aí vem.
Falta-me muito, eu sei, para conseguir voar como quero, planar como desejo, fintar o vento com acrobacias seguras. Muitas penas mais me levará a vida, quantas quedas terei ainda que sofrer…!

Cada voo é uma luta. E se é preciso sofrer para voar no mais alto céu, então a primeira a abrir as asas serei eu.

Tu, alma de pássaro, nunca desistas. O teu voo de hoje faz parte dos muitos que terás de tomar até conseguires alcançar as rotas da tua vida.
Serão várias as paragens, as árvores e as quedas. Mas tu, ave rara, saberás sempre que só as tuas asas te levarão onde almejas.

Agora vai e voa. És livre.



Enquanto percorreres o céu, o dia ficará mais bonito. E que os teus voos sirvam de exemplo para quem nunca quis ter asas, por medo de não conseguir voar.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Viagem


Mal entrei naquele autocarro cheio de gente, apressei-me a arranjar o primeiro lugar à janela que encontrei. Gosto de ver a paisagem passar por mim, pitoresca, tragos de sol que teimam em não ficar um dia inteiro, numa viagem pequena, sem grandes atribulações. Encostei a cabeça ao vidro e as minhas memórias rapidamente despertaram, vibrando, acompanhadas de um fechar de olhos, pensamentos bem longínquos dali.

Lembrei-me de ti.

Era pequena, mas achava-me grande. Lembro-me bem que, no primeiro dia, perdida de quereres, cheguei àquela casa velha de tão antiga e encheste-me de perguntas. Um “Ah?” precipitado surgiu-me então e foi nesse mesmo dia que aprendi que interjeições não funcionavam contigo. Ainda hoje é o dia que evito fazê-lo! Talvez em memória a ti.
Naquela cidade tão minha, fui muito feliz. Ecoa-me a música praticada diariamente, os risos e as primeiras manobras de carro. O álcool, os amigos, as vestes negras de um orgulho imenso, o cheiro a natureza, as farras e folias, os apertos nos estudos, os abraços apertados, os sorrisos exagerados, a libertinagem de uma adolescência quase adulta, as minhas coisas, tanto, tudo e toda a gente.

Acordo de repente e a pequena sorria-me.
Naquele autocarro, do qual nunca tinha saído na verdade, parecia-me haver percorrido já milhões de quilómetros, bendita imaginação.
O seu olho verde brilhava de encontro ao meu. 10 Anos de gente, curiosidade aguçada, vestes de menina-princesa, ares de rebeldia arrapazada.
Rasei-lhe os braços com a minha mão esquerda. Tive que lhe perguntar:
- Estavas a olhar para mim, hum?! – Acenou com a cabeça afirmativamente, envergonhada.
- Bem, o que vale é que não estava mesmo a dormir, que costumo falar sozinha.
- Mas falaste…
- Falei?
- Sim, sorriste e suspiraste.
- Oh, mas isso não é falar!
- Claro que sim. Isso é Saudade.

Saiu do autocarro apressada, mochila às costas, nunca mais a vi. Para trás deixou-me, aparvalhada, a pensar naquela pequena que tinha sido tão grande.

È, miúda, Saudade. A expressão assinalada de uma emoção tão nossa, tão nostálgica, tão visível.

Saudade… Saudade è sentir o coração a suspirar e ver a alma a rir!


segunda-feira, 20 de maio de 2013




Não,não,não, ai Ai AAAAAIIII !
PUM.

Foi assim, após 3 segundos de muita luta, como que de um sabonete em mãos molhadas se tratasse, que a minha máquina caiu ao chão. E lá ficou. Bem mais do que os 3 segundos daquela demorada luta, devo confessar. Eu olhava-a com admiração e tristeza, enquanto imagens aleatórias apareciam no seu entorno, vagabundeando por um solo pesado de tão duro, demasiado, para uma pequena tão frágil.
Tanto que me custou a paga-la, tanto que dela preciso!
Tanto dinheiro que não tenho, tanto que vou precisar!
E é assim, que me surge, num ápice, o esboço de um sorriso satírico, o que é que se há-de fazer.

Eu bem sei que podia chorar e passar o dia em lágrimas, questionando-me sobre as escassas opções que possuo neste momento para compor aquela parte material de mim que me leva a unir-me a uma máquina. E podia, claro que podia, explodir com umas mãos cheias de palavrões e pontapés no ar, amenizando a dor material de uma necessidade imaterial. Podia também esbracejar, indagando que isto só me acontece a mim, que sou uma pobre menina infeliz sem dinheiro e, agora, sem a minha pequena. Podia tornar-me uma coitadinha infeliz – tenham muita pena de mim, por favor –, como podia também gritar alto e bom som “AHHH! PORQUÊ EU!?!?”!

Podia, claro que podia. Mas como diz o outro, não era a mesma coisa.

Porque eu sei bem que apesar das dificuldades que terei para a consertar, as coisas simplesmente acontecem. E de que me vale chorar, depois do leite derramado? E uns bons litros, digo-te já.
Aperta-me o coração, claro que sim. Custa-me, então não! Mas o que tem de ser, tem mais força. E eu, depois de tantas dificuldades, dores e lutas, já simplesmente me rio.
Talvez seja loucura, dizes tu. Mas eu não posso concordar contigo. Rir, nestes casos, é uma protecção que o coração tem para amenizar as dores de algo que poderia ser bem mais forte. E não me refiro apenas à máquina, mas a tudo o que acontece nos nossos coraçõezinhos de manteiga às vezes duros, mas que se derretem assim que uma brecha de um sol tão nosso os rasar.

A maior dificuldade que o ser humano tem – e o que o faz ser tão maravilhoso e diferente de todos os animais – é a capacidade de sentir de uma maneira exarcebada. O que nos impede, na maior parte das vezes, de ver os acontecimentos como eles são na realidade. È a nossa ligação tão efémera mas tão forte à terra e ao que admitimos ser nosso, que nos faz ser egoístas quando algo nos falta e chorar, quando devíamos estar gratos por termos tido a oportunidade de ter realmente, uma oportunidade.

Uma máquina partida, uma dor que já passa, uma complicação económica e um risinho satírico. È isto. A simplicidade tão complicada de uma vida. UFA!

Beijinhos, Ana

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Um monstro chamado medo


Não sei bem o que devo chamar a esta minha inconformidade para com determinadas estratégias de aprendizagem. Mas admiro, acima de tudo, quem quer que apareça no meu caminho e se aventure, assim como que do pé para a mão, a executar todo e qualquer trabalho que à partida não é de todo para se aprender num dia.

E digo-o com muita inveja. Uma inveja boa, como a que costumo ter sempre para com os seres humanos que possuem qualidades ou agem de maneira que eu própria almejo.
São pessoas que se aventuram, que se atiram de cabeça, que participam com fervor na maioria das práticas que lhes são propostas. Sem recuar!

Eu, que sempre fui medrosa, olho para o passado e denoto que já ultrapassei algumas barreiras que de uma forma ou de outra me limitavam. Mas também sei que todos os dias me aparecerão situações novas com as quais terei de aprender a lidar.

A nossa vida é, sem sombra de dúvida, equiparada a um monitor cardíaco: Sem altos e baixos, definitivamente, morremos. E são os altos e baixos de uma vida que nos trazem essas tais experiências que, quando aparecem nos provocam medo. E ter medo, meus amigos, é estar na mó de baixo. Mas como só temos medo daquilo que não conhecemos, acabamos por, de uma maneira ou de outra, uns mais tarde outros mais rapidamente, ultrapassa-los. Sem esquecer que há que Querer, de verdade! E aí surge um pico de felicidade.

Eu tenho muito medos. Alguns até podem ser apenas receios, mas eu própria faço questão de os transformar em monstros gigantes, com sete cabeças, quase que inultrapassáveis. Maldita cabecinha! (Ups, cá estou eu novamente na mó de baixo) Depois vem como um clic a referência de que, se mudarmos essas imagens no nosso cérebro, podemos mudar a forma como vemos determinada temática e, assim, enfrentar o que à partida é tão difícil de superar. E mais uma vez… Há que Querer, de verdade! E aí, clic! Surge mais um pico de felicidade.

O que vale é que sei que todos, de uma maneira ou de outra, temos medo. Os aventureiros, talvez não se melindrem pelas mesmas coisas que eu, mas hão-de temer outra coisa qualquer. E na maioria das vezes é o conhecimento deles próprios.