sexta-feira, 16 de dezembro de 2011


Ela tem cabelo azul farto de rastas e usa o preto como preferência.

Não gosta de música pop, de telenovelas, não sabe fazer croché nem cozinhar. Dos poucos amigos que tem, conta-se uma rapariga. Não dá azo a simpatias nem faz festas nos amigos, prefere faze-las com eles.
Do muito que tem, nada lhe sobra. È irreverente, provocante e perita em incomodar as avozinhas. Põe a música nas alturas às 4 d...a manhã, e faz-se de despercebida quando a policia lhe bate á porta.
È controversa, cínica e por vezes egoísta. Trata por tu a solidão, ignora horários, falta às aulas, comete infracções.
Ela é detestada por metade da escola e ignora a outra metade.
Maluca, esquisita, punk, def, escumalha, ridícula, extraterrestre – são alguns dos nomes que se habituou a ter.
Em casa, nada lhe falta, diz-lhe a mãe. Uma família de renome, classe de doutorados, desafogados de problemas financeiros, sem problemas de maior. Foi a única que saiu diferente, queixa-se o pai. Das irmãs, nenhuma lhe fala sem que se consiga denotar a arrogância e a superioridade.
Mas para ela pouco importa. Um dia todos compreenderão! Esperança ténue de uma visão ampliada do seu mundo.

E é por isso que a admiro tanto.

È vaiada, gozada, motivo de risota diária. Mas mesmo assim levanta a cabeça, ri-se para dentro e deixa que os phones lhes silenciem os disparates. Por muito que façam, que digam, que apontem, ela continua impávida e serena: negra por fora, colorida por dentro!
Pouco lhe importa o que os outros acham. Porque ela, ao contrário de muitos, sabe quem é.
E sabe que, apesar do que aparenta exteriormente, segue o coração como ninguém. Em segredo, é romântica, escreve poemas, faz doações anónimas da sua mesada a instituições da caridade.
Dá vontade de perguntar o porquê daquele jeito tão afastado do mundo, tão longe do normal. E ela responde.

“Eu sou quem sou, como sou. Pouco me importa o que os outros pensam! Só terá o direito de entrar na minha vida e no meu coração quem souber ler-me no olhar, muito para além das minhas vestes. Nunca saberás a verdadeira cor do mar, se não o visitares na sua profundidade.”

È por isso que a admiro tanto.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O meu abrigo

      Estou sentado na soleira da porta, que também faz de minha almofada durante a noite.

     Aqui, no coração saudoso do Porto, vivo os meus dias coleccionando pedaços de sentimentos, bocadinhos das pessoas que vão passando, que se perdem sem elas darem conta. Pertencem-me os risos das crianças, os gritos dos trajados que comandam magotes, o espanto dos turistas que percorrem este lugar esquecido, o calor de um cachecol luxuoso no pescoço de uma senhora bem-posta. Todos os dias, ganho prémios de consolação. Alheio aos olhares que falam, às mudanças de passeios, à frieza nas palavras de quem não me vê para além de um sem-abrigo, vejo nas pessoas o que elas não vêm para além do espelho. Talvez tenha aprendido a vê-las por olhar tanto para mim, que já fui igual aos outros.
     Eles dizem que não sou nada mas eu sei que represento tudo. Não é a roupa que trago, que me veste. Do que como, nada me sabe às sobras que consigo do lixo, tão pouco bebo da água que vai caído em pingas, do telhado para o copo velho que tenho a meu lado. As pessoas não sabem, não sabem porque não querem, desconhecem porque têm medo, mas eu tenho tudo. Trago comigo as memórias de um outro eu, que vivia provido de tudo o que queria. Carrego as lembranças de uma família que me esqueceu, das viagens que fiz, dos negócios que tive. Meti tudo numa caixinha de cor apagada, fechei-a bem, e transporto-a comigo para onde for, para que nunca me esqueça do orgulho que tenho pelo que sou agora. Talvez estejas espantado por tudo isto e me chames louco como os demais, mas ouve-me agora, que nada mais digo do que a verdade:

Eu tenho tudo.

     E foi o que deixei para trás que me fez encontrar quem eu sou hoje. Se assim não fosse, talvez não soubesse tanto de mim, de ti, de nós, agora. E foi isso que me fez dar tanto valor ao que sou, ao invés de dar valor ao que tinha. Perdi, perdi tudo. Mas ganhei-me. Durmo na rua, falo sozinho, sou maltratado. Mas antes não era pior? Tanta gente e ninguém me ouvia, vivia sozinho, mergulhado nas minhas preocupações supérfluas, magoavam-me tantas vezes que ainda sinto as cicatrizes…

Agora vejo a vida de outra forma.

     Não, não quero que tenhas pena. Só quero que dês uma oportunidade a ti mesmo, tal como eu fiz comigo. Que te conheças, que te aceites, que te possuas, em vez de tentares conhecer os outros antes, de aceitares o mundo como ele é quando podes fazer melhor, que sejas dono de ti mesmo em vez de detentor de carros de marca e casas á beira-mar.

     Hoje, eu olho para as pessoas e vejo-as por dentro. Porque me tornei transparente aos meus olhos, à minha cabeça e ao meu coração!
     Nesta soleira da porta onde me encontro sentado, permanece um homem que Vive. Sou um sem-abrigo abrigado por mim mesmo, que quer que a sua história não se repita na tua vida.

Não esperes, começa agora!

Pensa nisto.

Um dia, Talvez.

Um dia, gostava de perder essa mania teimosa de me preocupar tanto com os outros.

Poder viver a minha vida sem preocupações alheias na cabeça, tentando engendrar planos para que as pessoas possam viver melhor, ser mais, conhecerem-se melhor, fazerem as suas escolhas de acordo com o coração e umas pitadas de racionalidade.
Talvez até seja um objectivo convicto que esteja intrinsecamente ligado a m...im, pronto para se revelar um dia.

Sim. Um dia, talvez.

Porque na verdade sinto-me muito bem assim. Ajudar os outros em busca do auto-conhecimento é neste momento o que faz mais sentido para mim. Desde que me descobri que todo o trabalho que tenho vindo a realizar passa por ti. Haverá alegria maior do que a de dever cumprido, quando se estampa um sorriso nos outros e se vêem assim, na felicidade alheia, agradecidas todas as palavras embora maçadoras, chatas, confusas e muitas vezes dolorosas, que apesar de tentarem sair à mesma velocidade que entraram, nunca serão em vão?!

Às vezes tenho medo.

Eu sei que por muito que aprenda e por mais sede que tenha em saber mais, chegará sempre alguém pronto para uma conversa em jeito de pedido que não vou saber comentar. Há muitas situações com as quais não sei lidar, palavras que por as compreender tão bem, não conseguirei abafar em ti. Desculpa. Mas também eu estou a aprender, conhecendo-me mais de cada vez que falo contigo, da cada vez que percebo o que sentes quando escrevo um texto e me dizes em tom de desabafo que foi feito para ti. Na verdade, és igual a mim. Eu vejo-me em cada pessoa que falo, em cada partilha, em cada um que me procura. E talvez por isso te dê tanto valor. Por gostar demasiado de mim, vou-te estimando o melhor que sei. Não quero ver-te sofrer, chorar, esconder-te. Não quero que soltes os teus gritos num cântico mudo, que vivas guiada por uma luz que não queres, que não escolheste, que não te ilumina o caminho que sonhas.

Eu tomei a minha decisão e hei-de dedicar-me a ti, até que surja “Um Dia, Talvez” que me impeça de acreditar que é possível.

Eu escolho-nos.

E tu?

Desistes ou entras comigo nesta longa e sofrida batalha, de onde sairemos de mãos dadas, empunhando a bandeira da felicidade?!

Não estou preparada para te dar todas as respostas que desejas, mas dar-te-ei as que sei. Tão pouco poderei fazer com que os teus problemas desapareçam, mas posso faze-los fugir de vez em quando.
Eu quero mesmo é ser feliz, sempre. Eu quero aprender contigo, guerreira de uma vida!


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Coisas de dentro

Não sei de que é feito o meu coração.


Tem dias que me parece ser de chocolate. Basta um raio de sol e fica todinho derretido!

Às vezes parece-me que é feito de chapa. Pouca coisa o atinge, mas quando acontece... Faz ricochete!Noutras alturas é água. Limpida e cristalina, que me lava interiormente.
Também já foi de sangue. E doeu tanto!
Quando foi fogo, queimei-me. Ardeu também quem nele tocou...
Mas do que eu mais gosto é quando ele é feito de goma. Doce, colorido, eterna criança!

Hoje, não sei de que é feito o meu coração. Nem sequer se o trouxe comigo.
Talvez se tenha perdido por aí.
Ou poder-se-á ter transformado em pedra, gelado, com o frio que me corre cá dentro...
Hoje não sei do meu coração. Se alguém mo tirou, ou se o abandonei. Não sei onde o procurar nem como o encontrar.

E percebo que o meu coração não é meu. È do mundo, de quem dele precisar, dos que o ocupam e se ocupam dele. Da tristeza, do amor, da alegria e da ambição.
È da familia, dos amigos, de quem nele entrar e for benvindo.
O meu coração não tem morada. Permanece nómada, deambulando por aí.
Se lhe quiseres falar, ele poderá não te ouvir. Mas quando mais precisares... Ele estará presente!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ja o vejo!

Quando menos se espera lá vem ele: Ninguem o quer, todos o temem, mas ele lá entra destemido, pela nossa casa dentro e ainda espera que gostemos da sua visita. Todos o tentam expulsar, fazer com que ele saia pela mesma porta por onde entrou, e praguejamos que não nos volte a incomodar, que nunca mais o queremos ver.

Mas ele permanece ali, inquieto mas persistente.

E está a querer entrar em minha casa! Já o consigo ver, do outro lado da rua.

Olho á minha volta e vejo o que ele fez nas outras casas: Destruiu familias, modificou pessoas, levou-as à loucura, tirou-lhes o que tinham e a muitas outras o que não tinham. Causador de tristezas, medos, sonhos quebrados. Ninguem o quer, todos o odeiam!

Mas não vou deixar que faça isso comigo! Não o posso expulsar da minha casa mas posso lutar contra ele. Ele quer fechar-me a porta mas preparo-me para abrir muitas janelas, para que ele possa pular e desaparecer quando notar que não o temo.
Já arregacei as mangas e preparo-me para ir á luta.
Não vai ser fácil: Ele tem a pujança, a experiência, é um destruidor por natureza.
Mas eu não me fico: tenho a inteligência, a perserverança, a vontade, os dons, a fé!

Por enquanto, e por precalço, começo por dizer: EMPREGO PRECISA-SE!

Ele, o senhor Desemprego, reles e antipático já se vai mostrando.
Mas eu digo-lhe: Tu podes ganhar esta batalha mas quem ganha a guerra sou eu!
Ah, podem ter a certeza que sim.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

´¯`•.¸¸. Nas asas de uma borboleta Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ

“Depois do acasalamento, as fêmeas buscam plantas adequadas para colocarem seus ovos.
(...) a fêmea sente a textura das folhas das plantas (...) a temperatura, a presença de ovos de outros insectos ou a disponibilidade de alimentos. Após algum tempo, os ovos eclodem e deles saem lagartas (...)
As lagartas comem o dia todo e até mesmo durante a noite. Nos momentos em que não estão comendo, recolhem-se nos ninhos que fazem na parte inferior de uma folha especial: a única folha que evitam comer. Já bem alimentadas com os nutrientes necessários, elas passam à fase conhecida como pupa.
(...) Esta capa, que acaba sendo sua protecção, dura até que ela atinja a fase adulta.
(...) Quando o casulo se rompe, sai dele a borboleta adulta, com corpo e asas inteiramente formados. Esperam mais algumas horas para que as asas sequem e endureçam e então... podem voar!”
Denise Moraes, In Vivo


Quando nasci, os meus pais procuraram dar-me tudo o que podiam. Talvez quisessem mais para mim, mas as suas posses delimitaram que viveria sem grandes artefactos. Cresci alimentada pelas informações que ia retendo. Brinquei, conheci, aprendi com tudo aquilo que me era colocado no caminho, fazendo de cada dia uma lição. Consumi da cultura que me iam mostrando, bebi de cada dia que me fez crescer... Mas ás vezes, dava-me uma vontade imensa de fugir, de me esquecer, esconder-me do mundo e refugiava-me no meu quarto, onde ficava durante horas a fio.
Na verdade, e apesar de todas as pessoas que me ocupavam o meu coração, de toda a família que me circundava, de adorar o lugar onde vivia, eu queria mais. Chamavam-me sonhadora, exagerada, idealista. Discutiam, criticavam, impediam-me. Depois de muitas tentativas frustradas para assumir uma identidade diferente daquela que todos esperavam, percebi que o segredo estava em saber esperar. Até encontrar forças para lutar, não conseguiria escapar ás índoles naturais de quem me viu crescer. Mas se eu não podia ser quem eu queria, também não iria ser o que esperavam.
Eu já não era eu.
Vivia acostumando-me aos meus próprios erros, às minhas falhas, aos fracassos de amores não correspondidos. E fechei-me dentro de mim, assumindo-me como refúgio de um mundo que não escolhi. Um dia, iria ser quem eu ambicionara. E coabitava com a esperança de poder vir a ser o que queria, de voar mais alto do que os outros alguma vez pensariam voar.

Numa manhã clara de primavera, senti um rasgo de luz afectar-me a visão, enublada de uma noite passada entre o choro e a decepção. Acordei decidida a mostra-me ao mundo como era, de uma vez por todas. Tinha ficado anos naquele casulo que era o meu quarto, à espera de um sinal que eu própria sabia não existir. Estava decidida a virar a minha vida do avesso, que é o lado que prefiro.

Coloquei-me em frente ao espelho e sorri. Os cabelos, cortados com a primeira tesoura que encontrei, condiziam com as cores vivas da minha vestimenta. Pela primeira vez, senti que todos os quereres do meu coração tinham força para se libertarem e crescerem soltos e desatados do meu passado.
Convoquei uma reunião com o meu coração, de onde demiti muita gente que lá estava fazia anos. Foram embora sem direitos! Mergulhei a minha cabeça no mais quente dos sentimentos e expulsei de uma vez todos os pensamentos que se tinham ocupado dela.
À minha volta, observei todas as pessoas que me olhavam com cara de nada, valendo coisa nenhuma. Tantos risos, tantos choros, tudo falso! Soltei uma gargalhada e agradeci por ser diferente de todos os outros. Não me despedi, não acenei, não olhei para trás. Corri para a janela, debrucei-me, olhei o infinito e...

O primeiro voo de uma borboleta é algo único.

È a prova de que todos, sem excepção, conseguem atingir os objectivos, embora este seja um percurso com sacrifícios, dores e sofrimentos, mas vale muito a pena.
Hoje, estou a voar por entre as nuvens.
È realmente compensador sonhar e ser, pensar e querer, fazer por isso!

Espero que, tal como eu, tenhas a coragem de mudar o teu rumo e vires voar comigo!


A vida é muito curta. Curta de mais para ser pequena.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Para refletir

Será que estás a viver a vida que queres ou limitas-te a deambular na vida que tem de ser?! Tu és aquilo que fazes! E podes fazer tantas coisas...

Que barreiras te impedem de conseguir o que queres?

Que medos te impelem de chegares onde desejas?

Até que ponto irias para conquistar o que ambicionas?

Quem quer, arregaça as mangas.
Quem deseja, faz o impossivel.
Quem ambiciona vai á luta!

E tu? O que já fizeste hoje em prol do(s) teu(s) objectivo(s)?

Nunca baixes os braços. Nunca desistas!
Tens tudo o que precisas, dentro de ti.
Simplesmente...

ACREDITA!

O Céu não é o limite. È apenas o ínicio!

VIVE!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A realidade do meu querer

O que escolheria se pudesse ser o que quisesse?
Para onde iria se pudesse voar?
Quem escolheria se pudesse ter ao meu lado quem me apetecesse?
Em que dia pararia o tempo?
Por onde começaria se pudesse mudar o mundo?
Mas quem disse que não posso fazer todas estas coisas?

Claro que posso.
E posso porque quero, porque consigo.
Porque tenho em mim todos os poderes do mundo!

Hoje vou ser princesa.
Passear o meu vestido de raios de sol voando sob as nuvens, acompanhando os pássaros, parando o tempo na ternura de um beijo doce. E que esse beijo possa, em cada recanto do mundo, dar lugar a muitos outros beijos, para que o mundo se afague a ele mesmo e possa ser mais feliz.


Vou sonhar, vou voar, vou ser.

Neste pranto de esperança, que os meus gestos sejam o principiar de todos os gestos do mundo!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O poder da mudança

Há 10 anos atrás, quando apareci pela primeira vez em casa do Sr. João para lhe pedir ajuda com a festa de anos surpresa da sua filha, que é minha amiga, ele presenteou-me com poucas palavras e um ar severo.
O seu semblante carregado de doutrina e ar sabedor, que impunha por trás do bigode farfalhudo e do fato bem passado, anteviam a minha incapacidade de falar abertamente e de finalizar os assuntos com um sorriso aberto, como costumo reagir sempre que converso.
Quando apareci em sua casa, apresentei-me do modo que sabia, sem grandes pompas, porque fui simplesmente eu. Uma menina de 14 anos, diante de um doutrinado em regras de bom comportamento e rigidez, não poderia estender-se muito!
Respondeu ao meu pedido com dezenas de perguntas, carregadas de preocupação.

- Uma festa surpresa para a minha filha? Mas como? E vão fazer isso onde? Só se for ao início da tarde, mas tenho que pensar bem, falar com a mãe dela, que ela não pode andar por aí assim! E quem vai? Como vão comprar as coisas? – arrancando de mim toda a capacidade explicativa e paciência, respondi a todas as suas questões. Às vezes os actos mais simples tornam-se complicados!

Desde que conheci o senhor João que nunca lhe visualizei um sorriso na cara. Homem de poucas falas e andar recto na vida e nos passeios que dava com a família, levou aquele meu pedido como um favor que me fazia.
A rectidão que seguia, passou para o lar. Das poucas vezes que me atrevi a abeirar-me á porta de sua casa, tudo estava ordeiramente calmo e no devido lugar: Os filhos no quarto, a esposa na cozinha, e ele de lado para lado a inteirar-se da linha directiva da habitação.
Com educação, simplicidade e esmero na escolha de gestos harmoniosos, falei-lhe sempre como achava que deveria. Nunca deixei de ser eu, apesar de saber que naquela casa, todos se tinham habituado a poucas conversas, seriedade e linearidade. E eu, que por minha vontade não me calava nem um segundo, só me apetecia tocar á campainha, bater-lhe nas costas em jeito de cumprimento enquanto ele me abria a porta e entrar por lá a dentro a cantar, atirar-me para o sofá e berrar para que a minha amiga se despachasse.

Apesar do meu esforço por ser o mais simples possível, sempre tive noção de que o Sr. João desejava outro género de companhia para a filha. Alguém que tivesse posses e fosse visto como gente de bem. Que tivesse um nível cultural elevado, uma boa casa e mais do que isso, que fosse o melhor aluno. A seguir á filha, claro. Mas eu era moçoila da terra.
Possuía alegria para brincar, era gente de bem com a vida, tinha imensas casas de lençóis na eira da minha avó, um nível cultural elevado em música popular e era boa aluna mas apenas quando podia, que as brincadeiras ocupavam-me boa parte do tempo.
Durante vários anos, muitas foram as situações que passei para conseguir que a minha amiga pudesse dar um passeio comigo. Engoli muitos sapos, fiz muitos gestos harmoniosos, portei-me como manda o protocolo, mas nunca vi um sorriso na cara do Sr. João, muito menos um gesto de carinho.

Passaram-se 10 anos.

Hoje, enquanto dormia o meu sono de costume no comboio, ouvi a informação de que tinha chegado ao meu destino. Espreguicei-me interiormente, arranjei o cabelo desgrenhado pelo cair da cabeça em uníssono com o percurso do transporte e levantei-me. À minha frente, várias caras conhecidas mas uma que não pertencia àquele ambiente.

Peguei nas minhas coisas, levantei-me e cumprimentei o Sr. João.

Questionado pelo facto de ser ou não quem ele estaria a pensar, o Sr. João já estava há algum tempo a olhar para mim, disse-me.
Cumprimentou-me, alimentado pela curiosidade do meu crescimento enquanto me observava as mudanças de tantos anos. Naquele gesto observador, pude reparar na leveza do seu olhar, na facilidade dos gestos, que já não estavam coadunados com a rigidez de outrora.
Acompanhei o senhor até ao exterior do comboio e notei-lhe um ar humano, de vencedor. Seria aquela uma mudança interior ou apenas um dia bem disposto, um momento mais descontraído, que eu nunca pudera observar?
Retomei o passo lado a lado com ele enquanto o Sr. João me perguntava por mim. Eu estava ali, a responder-lhe, mas apenas em metade. A outra parte de mim estava a lembrar-se dos gestos harmoniosos, da escolha das palavras. Mas antes que pudesse pô-los em prática retomei-me na totalidade com o que visualizei.

O senhor João estava a sorrir!

Falou-me da filha, dos projectos, quis saber de mim. Sinto que fiquei ali muito pouco tempo comparativamente ao que desejava. Fiquei tão perplexa que me mantive non sense e mais ainda quando lhe ouvi o coração:

- Eu sei que nunca fui um homem de falar muito. Nem nunca te disse o que queria porque não me permito a afectos. Mas queria dizer-te uma coisa... Não sei é como explicar! Não quero ser mal entendido... È que... Durante todos os anos que te conheço, via em ti uma menina com muito para dar. Aquela tua capacidade de falar, de te exprimires... Ainda me lembro, até parece que foi ontem, quando tu me pediste ajuda para a festa surpresa da minha filha. Achei um gesto muito bonito. Mas nem foi só o gesto, foi a maneira como falaste, a alegria que transmites! Permite-me dizer-te, Ana, tu tens tudo para seres uma grande mulher. Ainda és muito nova, tens muito pela frente... Mas se seguires o teu caminho e lutares pelo que queres, sei que vais ter muito sucesso... E sabes... Sempre gostei muito de ti.

O peso da mala, dos livros, da roupa invernal, dissiparam-se. A estação ficou vazia. Era só eu e o sorriso do senhor João. Como é que, em tantos anos, teve que ser agora? Mostrei um sorriso enorme, com certeza o maior e mais sincero que tenho, agradeci em grande escala e antes de me enfiar no barco rumo á tempestade de perguntas interiores, chegou a bom porto a resposta.

- Sabes Ana, no ano passado tive um cancro. Estive muito mal, ás portas da morte, mas não quis que ninguém soubesse. Fui só eu e a minha família. Sofri muito... Mas agora já estou bem. Tenho feito exames regulares e voltei a ir á terra. Voltei a encontrar os meus amigos de miúdo, a falar com os vizinhos e a sair de casa. Estou feliz.

Ah pois esta! Felicidade é sem dúvida o apelido do Sr. João! Enquanto o ouvia, imaginava o ar sério e rígido quando lhe falei pela primeira vez. Do deambulo preocupado pela casa, do semblante carregado. E digo-vos, o senhor João parece que rejuvenesceu, aquele sorriso muda completamente a sua postura!
Fiquei muito contente e agradecida pelas palavras do Sr. João. Fiquei muito feliz pela sua mudança, pelo seu aspecto e por ter conseguido superar as dificuldades.

Despedi-me com um longo sorriso e um abraço e vim embora a pensar:

Poderão algum dia as pessoas serem felizes
e aprenderem que só têm uma vida,
que merece ser vivida com toda a intensidade,
sem terem que passar por dificuldades?

Poderá existir um sorriso em todas as caras, em cada momento?

Um sorriso que aqueça, que cure, que ilumine?


Que sirvam estes exemplos para que as pessoas possam aperceber-se da alegria que é estar vivo,
do orgulho que é poder viver.

Bem-haja, Senhor João! E agora que aprendeu a sorrir, faça-o sempre. Fica-lhe bem! :)


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Nada do que queremos cai do céu!

"Um homem pobre que vai à igreja todos os dias, reza diante da estátua de um grande santo:
"Querido santo, por favor, por favor, por favor...
Conceda-me a graça de ganhar na lotaria."
Este lamento dura meses.
Por fim, irritada, a estátua ganha vida, baixa os olhos para o suplicante e diz, com uma repulsa cansada:
"Meu filho, por favor, por favor, por favor... Compre um bilhete." "
(In Comer, Orar e Amar)


Todos nós gostaríamos que os nossos desejos e ambições se satisfizessem sem que tivéssemos de fazer algo em prol disso. Mas as coisas não são assim!
Às vezes custa, leva tempo, é difícil. Mas quando se luta pelo que realmente se quer, a palavra esforço transforma-se em convicção!
E para além disso, que objectivo teria o mesmo sabor, a mesma significância, se não fosse conseguido com trabalho e empenho?

Sempre que pedes algo, a resposta vem. Poderá não aparecer na forma do que queres, mas certamente figurará naquilo que precisas para atingires o que pretendes.
Por muito que por vezes te apeteça, não pares de lutar. A vida é assim mesmo, um desafio constante! E tu, o guerreiro que terá muitos finais felizes ;)


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Igualzinha a ti :)

Eu também tenho as minhas dificuldades.

Quantas vezes tropeço, tento equilibrar-me, balanceio para cá e para lá e caio. Fico estendida no limiar da minha significância, a pensar nas piores coisas.
Normalmente, tenho dúvidas. Muitas! Também me questiono, duvido de mim mesma, sofro por isso e faço sofrer quem está ao meu redor.
Quando me sinto em aperto, sou muito pessimista. Choro, faço birras, penso que o mundo vai desabar. E nessas alturas, como eu desejava que num estalar de dedos tudo pudesse ficar diferente!
Também eu quero desaparecer de vez em quando. Fugir de mim, de todos, de tudo. Meter-me na cama, agarrar-me á almofada e chorar até que a dor se veja diluida nas minhas lágrimas.
Também eu queria que tudo desse certo... Que todos os meus esforços, sacrificios e projectos dessem frutos e se concretizassem como eu tanto desejo!

Ser Humano é isso mesmo: Sentir, ser, pensar, agir.
Mas mais do que isso: Aprender e melhorar.
Em cada tropeção, guardarei cada obstaculo que se coloca diante de mim como uma pedra preciosa, porque me fez crescer. Não há melhor professor.
Em cada balanceio, busco a força do vento que levará os meus medos e ânsias para bem longe.
Em cada queda, encontrarei chão firme para que nunca me esqueça de onde vim, o que sou, onde pertenço.

Quando estou triste, sabes o que me faz ficar melhor, o que me faz sorrir?

Pensar.

Pensar nos meus objectivos, nos meus sonhos, no futuro que quero para mim.
Na minha familia, nos meus amigos, em cada momento tão maravilhoso e tão único! No que vou ser, na familia que vou criar, no que acabarei de construir!

E sorrio com tudo o que penso.
Assim já estou melhor.

As lágrimas caem, mas são feitas de partes boas de mim.
È felicidade por viver cada dia singularmente, agradecimento por cada aprendizagem, ambição de ir mais além, esperança, força, atitude.

Não, não vivo de sonhos. Vivo daquilo que sou e do que vou ser! Se sou esperança, serei realidade, se sou futuro, serei presente, se sou sorrisos, serei gargalhadas!

Eu quero, eu posso, eu consigo!


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A ÁGUIA QUE (QUASE) VIROU GALINHA



Era uma vez uma águia que foi criada num galinheiro. Cresceu a pensar que era galinha. Era uma galinha estranha (o que a fazia sofrer). Que tristeza quando se via reflectida nos espelhos das poças d’água, tão diferente! O bico era grande demais, adunco, impróprio para catar milho, como todas as outras faziam. Os seus olhos tinham um ar feroz, diferente do olhar ...amedrontado das galinhas, tão ao sabor do amor do galo.
Era muito grande em relação às outras, era atlética. Com certeza sofria de alguma doença. Ela só queria uma coisa: ser uma galinha comum, como todas as outras.
Fazia um esforço enorme para isso. Treinava bicar com bamboleio próprio. Andava meio agachada, para não se destacar pela altura. Tinha lições de cacarejo.

A sua luta para ser igual levava-a a extremos de dedicação política. Participava de todas as causas. Quando havia greve por rações de milho mais abundantes, ela estava sempre na frente. Fazia discursos inflamados contra as péssimas condições de segurança do galinheiro, pois a tela precisava ser arrumada, estava cheia de buracos (nunca lhe passava pela cabeça aproveitar-se dos furos para fugir, porque o que ela queria não era a liberdade, era ser igual às outras, mesmo dentro do galinheiro.

Um dia, um alpinista que se dirigia para o cume das montanhas passou por ali.
O alpinista viu a águia no galinheiro e assustou-se.

- O que tu, águia, está a fazer no meio das galinhas?
Ela pensou que estava a ser gozada e ficou brava.

- Não me gozes. Águia é a tua avó. Sou galinha de corpo e alma, embora não pareça.

- Galinha coisa nenhuma - replicou o alpinista. - Tu tens bico de águia, olhar de águia, rabo de águia. ÉS ÁGUIA. Deverias estar a voar! - E apontou para minúsculos pontos no céu onde, muito longe, águias voavm perto dos picos das montanhas.

- Deus me livre! Tenho vertigens das alturas. O máximo, para mim, é o segundo degrau do poleiro. - Respondeu a águia.

O alpinista percebeu que aquela discussão não ia a lugar nenhum. Suspeitou que a águia até gostava de ser galinha, coisa que acontece frequentemente.
Voar é excitante, mas dá calafrios. O galinheiro pode ser chato, mas é tranquilo. A segurança atrai mais que a liberdade.
Assim, terminando a conversa, agarrou a águia, enfiou-a dentro de um saco e continuou a sua marcha para o alto da montanha.
Chegando lá, escolheu o abismo mais fundo, abriu o saco e sacudiu a águia no vazio. Ela caiu. Aterrorizada, debateu-se furiosamente procurando algo a que se agarrar. Mas não havia nada. Só lhe sobravam as asas.

E foi então que algo novo aconteceu. Do fundo de seu corpo galináceo, uma águia, há muito tempo adormecida e esquecida, acordou, apossou-se das asas e, de repente, voou.

Lá de cima olhou o vale onde vivera. Visto dali, era muito mais bonito!
Nesse instante, pensou:

"Tenho pena que existam tantos animais que só podem ver os limites do galinheiro!"

Texto de Rubem Alves, revisão de Ana Emme

TU NASCESTE PARA VENCER. NUNCA PARES DE SONHAR!
SÊ ÁGUIA, VOA ALTO!
E NUNCA DESISTAS DAQUILO QUE REALMENTE QUERES.
ISSO È SER GALINHA!
ABRE AS ASAS E SIMPLESMENTE, ACREDITA!

Xi ♥

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A vida que há em ti

Dói muito.

Mais do que o que a dor externa, a eterna.

Eu sei bem o que é.

Um aperto no peito que teima em não recuar na força que faz. È a ansiedade de dias melhores que nunca chegam, um charco de lágrimas na almofada, o cair de promessas de uma vida repleta de sonhos, desejos, ambições.
E de repente, sem marcação, sem aviso de chegada, as coisas acontecem.

È não saber para onde ir, que caminho seguir, é um não saber se a solidão te incomoda ou se és tu que incomodas á solidão. È não teres culpa mas sentires-te culpada(o).
Inconstância de sentimentos, de atitudes, de quereres. São imagens constantes daquilo que não queres ver.
Uma palavra, uma lágrima. Uma frase, uma vontade de virar pó.

E nunca ninguém compreenderá para além de ti.
O quanto te custa, o quanto mexe contigo, o esforço que fazes para pareceres bem, para dar um sorriso quando só te apetece chorar.
Já passou, já foi há muito tempo, não tens de estar assim, dizem-te.
Se eles soubessem que te sentes como se tudo tivesse acontecido hoje!
E dói, dói tanto que te apetece desaparecer deste mundo.
Largar de sentir, de ver, de tocar. Deixar tudo e passar a ser nada.

Eu sei bem o que isso é.

E por saber tão bem, digo-te que há solução. E que se realmente quiseres que a dor não faça parte dos teus dias, pelo menos não tão intensamente, se quiseres parar essas lágrimas e voltar a sorrir, arregaça as mangas e prepara-te para a batalha.
Não, ainda não há remédios que curem a dor da alma e calem o choro do coração! E por mais que queiras que seja tudo fácil, não vais poder pegar em todos os sentimentos e atira-los ao mar.
Tens que ser tu a cuidar de ti!
Tu e só tu. A apoiar-te, mimar-te, valorizar-te, a confiar em ti.
Não te acobardes, não desistas, não fujas de ti mesma!

E, por favor, não digas que não consegues.

Tu já és um(a) vencedor(a) por teres passado por isso tudo! Já imaginaste a experiência que ganhaste com tudo o que aconteceu? Por tudo o que passaste e o que evoluíste?
Agora, nada poderá derrubar-te!
Se eu consegui, tu também consegues.
Só tens de te encontrar, de pôr as ideias no lugar, saber utilizar as imensas armas que tens aí dentro e ir á luta. Mas lembra-te que nada se faz sem esforço!
Tenho a certeza que um dia, quando tiver noticias tuas, irás dizer-me o quanto é fácil ser feliz :)

Sempre que quiseres desaparecer, encontra-te.
A felicidade gosta de jogar ao esconde-esconde! :)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Uma questão de opinião

Tem dias que me sinto confusa... Não sei em que direcção ir, qual a resposta para o meu problema, que caminho seguir, qual a decisão mais correcta a tomar!
Às vezes faz-me bem conversar com alguém, expor o meu problema e obter uma opinião de quem eu realmente prezo e preciso.
Mas não me posso esquecer que, SOU EU a dona das minhas decisões! E, ás vezes, uma simples opinião pode fazer-me mudar de rota e ficar ainda mais perdida.
Não me vou esquecer que as opiniões dos outros são apenas e só isso mesmo: Opiniões!
Se eu quero deicidir algo da minha vida, tenho que encontrar as respostas em mim mesma:

Quem sou eu?
O que quero e preciso neste momento?
Para onde vou?

Questionar-me todos os dias não é absurdo. È essencial!
Pelo menos assim saberei que os meus olhos verão apenas aquilo que quero ver com o coração.

Um xi ♥

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ela estava nervosa. Aprimorou-se o melhor que podia, que sabia. O melhor vestido do armário, sapatos comprados propositadamente e o rímel que até ali só tinha usado no casamento do irmão. Ocasiões muito importantes! E esta seria, certamente. Tinha a certeza de que aquela tarde iria mudar a sua vida. Pelos seus cabelos, escorriam gotas enamoradas de excitação e expectativa. Nívea timidez, pura sedução. Olhou-se ao espelho pela última vez em casa (iria de certo aproveitar o reflexo das montras) e seguiu. Passo firme, tímida convicção. Hoje era o dia!

Em cima da cama ainda feita, ele acordou num solavanco, esfregou os olhos e desesperou: Estava atrasado! Pegou na primeira t-shirt que encontrou, as pernas não viram outras calças. Passou as mãos pelo cabelo, certificou-se que tinha tudo nos bolsos do casaco e correu. Correu tanto que as gotas da chuva pouco ou nada lhe abarcavam o semblante. Antes, o coração pingava de nervosismo e ansiedade. Estava atrasado. Atrasado!

Deambulando apressadamente pela cidade, ele parou. Com ele, pararam as árvores, as fontes congelaram e o canto dos pássaros deixou de existir. Com apenas uma rua movimentada de distância, entreolharam-se.
Reflexos de desolação, ela reparou no seu aspecto descuidado, desimportado daquele dia icónico que já tinha desejado viver. Ofegante, ele percepcionava que ela já não se encontrava a espera-lo, substituindo-o por um transeunte medíocre com quem partilhava a bebida, aconchegada.

Maldito amor, este!

Ele esquecera-se do encontro, da indumentária, da importância daquele dia. Ela trocou-o na primeira oportunidade que teve, sem esperar por um justificação.
De costas voltadas, ele afastou-se e ela acompanhava-lhe as passadas, noutra direcção. Sem discussões nem choros, continuaram as árvores, as fontes e o canto dos pássaros no seu esplendor. Nunca mais se viram, nem se lhes moveu a paixão de outrora, pela amargura daquele dia.

Este é o final de uma história de desamor que podia ter virado um conto de fadas.
Porque eles não sabiam, não contavam, nem quiseram ouvir o que lhes dizia o coração.


Ela, ansiosa pelo momento, tinha passado horas a preparar-se, sem comer. Na dureza e altivez daqueles saltos, no nervosismo da ocasião, desfaleceu. Valeu-lhe o auxílio de um rapaz que passava, cavalheiro de ocasião, que a agarrou e lhe deu de beber, fortificando-lhe o físico.
Ele, tinha passado a noite inteira à procura daquele anel. Tão tarde que regressou a casa, tão mais tarde que se deitou, decorando a voz do coração numa carta de amor exímia, de letra treinada e ternura repleta.

Se eles soubessem...
Se eles soubessem, nada teria ficado por dizer, por conversar, por entender.
Teriam atravessado aquela rua e ali, bem no meio da cidade, trocariam votos de um amor eterno, que findou pela falta de crença numa eternidade.


Se eles soubessem, nunca, nada, ficaria por emoldurar em palavras o que é sentido com o coração.
E, teriam feito da memória do que não ficou, a realidade do que esperavam.



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Quero dormir melhor!

Esta noite lutei contra o sono.


Não fui bem eu, foram os meus pensamentos que se tornaram donos de mim. Domaram-me perfeitamente, seguraram as rédeas da minha viagem á terra do sonho, tiraram-me o conforto e deixaram-me andar a vaguear, perdida a noite inteira! Encantadores de mentes... Ah, mas a culpa é minha! Quem me manda armazenar estes bichinhos cogitáveis por demasiado tempo durante o dia?! A culpa é minha!

E de repente sinto-me melhor por isso. Para mim, é bem mais reconfortante ter a noção de que fui eu que me magoei a mim mesma. Ser magoada pelos outros dói tanto... Mas que sentimento de reprovação que nutro quando me apercebo do mal que me faço!
Hoje não dormi a noite toda e a culpa é minha. Basicamente é isto.
Ah, antes fosse tão básico!

Às vezes tenho medo de dormir, só porque sei que vou sonhar com tudo aquilo que andei a cismar o dia inteiro. Coisinhas estúpidas, sentimentos que me doem, frases que não entendi e que tive vergonha de pedir para reexplicar... Oh, que pesadelo!
Acho que a minha mente já deve estar cansadinha de tantos nós. Quero desata-los de uma vez por todas!
Espírito firme: ok! Consciência daquilo que quero e me faz bem: Feito! Força de vontade: Presente! Muito bem, estou pronta para mais uma luta interior!
A partir de agora não vou ter medo de me enfrentar. Mas quem manda aqui, ah?!

Vamos lá colocar tudo no devido lugar:

As imagens que possuo na minha mente e não querem sair, brinco com elas.
Imagino-as á minha frente. Depois, coloco-as a preto e branco e vejo-as cada vez mais velhas, a rasgarem de tão antigas, cada vez mais finas, desvanecidas... Estão-se mesmo a desfazer! Tchi, estão mesmo muito velhas, tão velhas que estão a virar pó! Um pó cada vez mais fino, mais fino ainda, cada vez mais... Um sopro, uma rajada de vento e...


SSSSSSSSSSSSS!

Foi-se!


E quanto ás 3 fatias de pizza de ontem que me estão aqui atravessadas e que não devia ter comido porque vão tornar-se calorias que são pesadelos na balança?! Ah, sentimentos de culpa, que pesados que são!

Vou torna-los leves:
Ontem, souberam-me mesmo bem aquelas fatias de pizza. E de que vale estar a queixar-me agora e a sofrer se o mal já está feito?! Prefiro substituir o sentimento de culpa pela lembrança do prazer que as fatias me proporcionaram, pela companhia, pelo agradecimento daquele dia tão bem passado, pelos risos, pelas brincadeiras! Hmmm... Que bom!

E quando não perceber o que me dizem?! Deixo a vergonha de lado. Quem gosta de mim assim, gostará sempre e entenderá que eu preciso de uma resposta! Vou perguntar as vezes que forem precisas, sem medos nem vergonhas!

E faço isto as vezes que forem necessárias. Educando o meu consciente, reeduco o meu inconsciente e nada de domina, se eu própria assim o desejar!
Tenho que me tratar bem. Possuo todas a ferramentas necessárias para ser o que quero e como quero!

Até posso mudar o mundo se quiser. Mas hoje acho que prefiro dormir.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Carpe Diem

As coisas mais simples da vida, acabam elas próprias por ser complexas.

Quanto mais não seja pela simples dificuldade em torna-las alcançáveis, singelas e particulares, dando-lhe especial atenção involuntariamente.

Eu também sou assim: Simples e muito complicada.

Às vezes, quero ser mais, viver mais, conhecer mais, aprender mais e tudo mais, mais, mais. Acho sempre que nada é suficiente, que nada basta para que este meu espírito se preencha de orgulho de mim, da minha vida.
D’antes, perguntava-me muitas vezes se existiria mesmo o tal auge de satisfação que procurava. E permaneci muito tempo em busca deste sentimento que julgava eu, ser tão precioso e raro...

Até que o encontrei.

No mais simples (e lá está, tão complexo pela sua simplicidade) retrato de mim mesma.
Percorri as fotografias, memórias paradas de toda a minha vida, e foi então que percebi:
Tantas vezes tinha já atingido o que estupidamente procurava! Ah, como eu fui feliz aqui, como eu estava bem nesta altura (e permaneci o tempo todo a queixar-me das minhas gorduras, do meu vestido...), e foi tão bonita esta festa que naquele dia passei horas a criticar!

Na verdade, não tinha dado o devido valor àqueles momentos. Não naquele preciso tempo, contabilizado ao segundo. E como fui tonta por pensar que poderia ter mais quando já tinha tudo!
A partir desse momento aprendi que o dia de hoje, cada fracção de tempo que passa, é o mais feliz momento que posso viver. E cada segundo que virá será apenas futuro, e cada segundo que passou já faz parte de um passado, vivido intensamente!

Pinta a tua vida das mais belas cores, dando valor ao momento, agora. Agradece por cada instante e sorri perante as adversidades. Se tiveres que dizer, diz já! Se tiveres que gritar, que o teu eco se ouça por toda a parte!

O importante mesmo é que vivas, da forma mais intensa, pura e preciosa.



Carpe Diem quam minimum crédula posterum” – Horácio
(Aproveita o dia acreditando o mínimo no futuro)


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Saudade

Tenho saudades tuas.
Mas não tenho a certeza se as mereces.

Não será "saudade" um sentimento tão mais forte, tão único, tão português, tão meu, que seja digno de ser aplicado apenas a quem por nós nutre o mesmo afecto?!
Será este sentimento profundo demais para sentir saudades tuas, contigo ao meu lado, longe do mundo, longe de mim?!
 
Saudade é um privilégio que a dor, enamorada, nos dá!

Porque quem gosta sente falta, quem ama sente saudade.


Eu tenho saudades tuas.


 



sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Princesa de sonhos

Eu era uma menina.

Acordava de manhã a pensar em brincadeira, sorria todo o dia, imaginava desenhos nas nuvens e falava com os animais. Tantas vezes fui cozinheira, dona de mercearia, enfermeira, professora, apresentadora de tv. E sempre que podia, fugia. Passava tardes em busca de sítios perdidos, onde montava os meus castelos, com lençóis da minha avó, que albergavam a princesa por um dia intei...ro. Dava nomes ás bonecas, ficava manhãs inteiras a ver os meus heróis desenhados. Um dia seria igual a eles!
E como eu adorava aquele sentimento de liberdade, de aventura, de amor pela natureza, de sonho!

Eu era uma menina,
Agora sou uma mulher.

Se noto diferenças? Noto. Mas apenas no nome dos amigos, dos sítios, dos heróis.
Continuo a brincar, a imaginar e a sorrir, a sonhar em ser heroína de outras vidas, a pensar no nome das minhas bonecas :)
Às vezes fujo, construo os meus castelos, sou princesa.
E que bem que sabem estes sentimentos de liberdade, de aventura, de amor pela natureza, de sonho!
E hei-de sonhar sempre, sem limites, mesmo que os meus sonhos sejam outros e as minhas nuvens feitas de outra matéria.
Sonhar não custa, não dói, e eu adoro. Se posso ser o que quiser, quando quiser, onde quiser, vou sonhar sempre.
E é a sonhar que me construo, que vivo, que completo partes de mim!
Sou Shakespeare: Feita do tecido de que são feitos os meus sonhos.

E sabem que mais?!
O sonho sou eu.


“Um sonho deixará de existir quando deixarmos de sonhar, o sorriso quando deixarmos de sorrir, as aventuras quando deixarmos de nos aventurar, um amigo quando deixarmos de ser amigo, de aprender quando deixarmos de procurar, as estações do ano quando deixarmos de as notar, por isso, há coisas que perduram enquanto lhes soubermos retribuir.”

O Principezinho, Saint Exupéry

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Luz

Às vezes, sem saber como nem porquê, perco-me de mim mesma.

È como que se os meus sentimentos jogassem ao quarto escuro uns com os outros.
E depois há alguns que se abraçam e beijam na calada da escuridão sem eu mesma dar conta...
E quando surge uma luz, dou por mim a encontra-los, todos misturados uns com os outros.
Que confusão!
Não há nada como uma boa luz para colocar todos os sentimentos em ordem.
Uma luz que me ilumine tanto que me torne transparente, que me faça ver-me e me dê força para disciplinar estes plurais do sentir, dentro de mim.
Às vezes, quando ela brilha muito, ponho-lhe nomes. Já lhe chamei Deus, já lhe chamei Destino, já lhe chamei Ana! E o mais engraçado é que os meus sentimentos respondem e não estranham esta mudança nominal. Alguns ainda teimam em não obedecer e lá se tentam esconder e enrolar de novo, malditos amantes! Mas eu dou conta do recado. E eles atendem ás minhas ordens! Pois, que remédio! Sou de facto um ser iluminado: tenho uma luz que tem brilho próprio e me aclara. E é nesse brilho que me encontro, que me sinto e que se rendem estes sentimentos teimosos, que persistem em misturar-se...

Que a minha luz brilhe sempre. Que, apesar de muitas vezes tocar na escuridão, consiga ter força para fazer prevalecer a claridade. Que os meus sentimentos permaneçam sempre no âmago de uma chama que corre em mim, clara e continuamente... Quente e Feliz.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Hojé é dia de arrumações!

Como te sentes hoje?!
Frio, quente, bonito, feio, atrasado, empenado, muito feliz, louco, assim assim...

Como te sentes hoje?!
Doente, alegre, enjoado, apaixonado, surpreendido, nervoso, enraivecido...

Como te sentes hoje?!
O que te faz sentir assim?
Que tipo de sentimentos te ocupam a maior parte do tempo?
Serão estes sentimentos a tua melhor escolha para que vivas feliz, cheio de nada, livre de tudo?!

Hoje é dia de arrumações.
Procura dentro de ti o que te move, encontra o que te impede de alcançar as tuas metas e elimina os sentimentos indesejados. Sim, tu podes escolher como viver hoje!

Vamos pôr tudo no seu lugar! ;)
Só assim poderás dar-te conta de ti mesma e viver em pleno!

Como diz Vinicius de Moraes...

"A vida só se dá para quem se deu"!



Um óptimo dia :) ♥ *

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Obrigada!

Queridos amigos,


Ontem, pela primeira vez de uma maneira tão única e intensa, chorei de felicidade.
Chorei porque não contava com tamanha atitude vossa, com tanto mimo e alegria, tão pouco com as surpresas fantásticas que tive... Foi um sentimento tão forte, tão intenso, que nem sabia como reagir. Foi como que uma tempestade que revolveu tudo cá dentro, levando pelo ar o que era leve demais para se manter cá dentro e deixando apenas aquilo que era fundamental: eu, vocês e muito bons sentimentos.

Foi de facto um fim-de-semana repleto de boas vibrações, sorrisos e afectos, que nunca poderei esquecer!
È por tudo isto, pelo que representam para mim e pelo que me fazem sentir que tenho que vos agradecer. Sim, agora é a minha vez! :)

Em primeiro lugar, quero agradecer aos meus pais. Felicitar a minha mãe porque foi ela que há 24 anos atrás suportou as dores de fazer nascer uma menina que tem muito orgulho na mãe que tem. Está presente em todos os momentos, em todas as horas, e apesar de todos os defeitos que muitas vezes chateada lhe coloco, não a substituiria por nada nem ninguém. Sei que poderei contar sempre contigo mamã. Hei-de continuar sem precisar de falar para perceberes o que se passa comigo. E aquele abraço que te é tão próprio vai fazer parar as minhas lágrimas e substitui-las por um sorriso. Obrigado por me ajudares, por receberes sempre os meus amigos tão bem e fazeres tudo por mim. E ao meu pai, porque é um campeão. Ultrapassa tudo com uma força e vitalidade únicas, tem um coração do tamanho do mundo e uma paciência do tamanho do universo. E o que trabalhou sempre para que nunca me faltasse nada! Poucas são as filhas que têm tantos motivos para se orgulhar dos pais que têm como eu. E estou eternamente grata por isso. AMO-VOS MUITO.

Em segundo lugar, ao meu incansável namorado, que tanto me atura e me apoia em tudo e mais alguma coisa. È sem duvida o melhor namorado do mundo, o melhor presente de natal que tive, há quase 2 anos atrás. Bonito por dentro e por fora, é parte de mim, quem melhor me conhece e me compreende sempre.
Tu, Fábio Silva, ès fantástico! Aquele presente, tão original, tão pessoal, tão único, tão teu, significou muito. Mas mais do que isso, a tua dedicação diária ao nosso amor, a mim, revelou-se apenas um bocadinho na semana intensa que tiveste para me dares aquela prenda. Nunca poderei agradecer-te por tudo o que fazes por mim. Eu sei que não. Mas AMOTE com todas as minhas forças e é isso que vai contar sempre, acima de tudo. Obrigado amor da minha vida. Quero-te para sempre juntinho a mim!

Num patamar não menos importante estão vocês: Amigos da minha vida, pessoas lindas, que me surpreendem todos os dias! Foi mesmo muito importante para mim a vossa prenda. Muito mais do que o trabalho que tiveram, da originalidade de que foram capazes, de todos os beijinhos e miminhos. Foi um borbulhar interior, que mexeu muito cá dentro. Ontem, as minhas lágrimas corriam contentes pelo meu rosto e em silêncio agradeciam a todos os que me apoiam, estão comigo e que apesar de todas as minhas características, me acompanham sempre. O meu espírito ainda tão sensível para questões relacionadas com amizade acalentou-se ontem e demonstrou-me que nunca estou sozinha, que as amizades se alimentam das coisas mais simples, tal como sempre idealizei, e que eu tenho realmente valor.

A todos, sem excepção, o meu mais sincero obrigado.

Aos que estiveram comigo, pelo fim-de-semana inesquecível, aos que mandaram mensagem, aos que me ligaram, aos que me felicitaram pelas redes sociais e aos que não me disseram nada mas que se lembraram de mim, porque sei que me mantenho na vossa memória e no vosso coração!

Hoje, mais do que nunca, agradeço por ser quem sou, como sou, e pelas pessoas fantásticas que tenho á minha volta. Sou de facto uma privilegiada em todos os aspectos!

UM SINCERO OBRIGADA a todos os que fazem parte da minha vida. Obrigado por existirem, por me fazerem tão feliz! Eu estarei aqui sempre, dando o que tenho e o que não tenho por vocês. Porque eu sei que valerá sempre a pena ;)

Beijo no coração de cada um,
 
Ana